segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sociedade em rede

"O número de modos como os objectos ocupam o tempo não é, provavelmente, mais ilimitado do que o número de modos como a matéria ocupa o espaço." (Kubler, 1990, 133).

A escolha propositada desta citação que remete para o estudo da obra de arte, dos movimentos e das correntes artísticas, pretende por analogia, abordar alguns aspectos sobre o tema, sobre a implicação das nossas experiências passadas na capacidade de avaliação e utilização das tecnologias.

O primeiro aspecto que se pretende salientar é que, para o entendimento da obra de arte e a sucessão dos movimentos artísticos, tal como para as alterações culturais produzidas pela integração das tecnologias na sociedade, coexistem elementos de períodos anteriores,


(…) da mesma forma que a sociedade industrial coexistiu durante várias décadas com a sociedade agrária que a precedeu, a sociedade em rede mistura-se, nas suas formas, nas suas instituições e nas suas vivências, com o tipo de sociedade de onde surgiu. (Castells, 2005, 19).


São pois necessárias chaves de interpretação para que não fiquemos prisioneiros de uma visão superficial, designada em geral, de senso comum. Quando Steven Johnson pretende desmistificar os preconceitos sobre a cultura de massas, quando avaliada sob a óptica dos valores (Ganito, 2006, 204) e centrando-se a análise no conteúdo dos jogos electrónicos e não nas competências envolvidas, dá-nos um outro modo de leitura do desenvolvimento cognitivo que estes potenciam.

Porém, a escolha desta analogia pretende também salientar a velocidade das transformações sociais, uma vez que a matéria, os átomos deram origem a bits, como salienta Negroponte (1996, 19), dirigindo-nos para uma economia da informação.

A distribuição destes bits ganha a partir de 1990 uma elevada dimensão, reunindo diferentes meios e, generaliza-se pelo seu baixo custo. Desenvolve-se constantemente pela evolução dos protocolos e pela forma como os bits se relacionam, o que permite afirmar que "o mundo digital é intrinsecamente escalável" (Negroponte, 1996, 50). Neste sentido é difícil manter-se actualizado e transpor facilmente essas mudanças para o universo pessoal e profissional, carecendo de um tempo de adaptação, tal como na compreensão da obra de arte.

Referências:

Castells, M. (2005). A sociedade em rede. In A sociedade em rede em Portugal. Porto: Campo das Letras.

Ganito, C. (2006). Stenven Jonhson - Tudo o que é Mau Faz Bem: Como os Jogos de Vídeo, a TV e a Internet Nos Estão a Tornar Mais Inteligentes. Comunicação&Cultura, 2, 202-204.

Kubler, G. (1990). A forma do tempo. Lisboa: Vega.

Negroponte, N. (1996). Ser digital. Lisboa: Caminho


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